terça-feira, 12 de agosto de 2008

Mycobacterium abscessum e lipoaspiração

Nos últimos dias, não se fala em outro assunto nos noticiários e revistas televisivas: Lipoaspiração e micobactérias. Primeiramente, o termo “micobactérias” abarca todas as bactérias do gênero Mycobacterium, incluindo as bactérias causadoras de hanseníase e tuberculose. Diferentemente de M. tuberculosis e M. leprae, as micobactérias associadas às contaminações nos procedimentos de videocirurgia e lipoaspiração não estão associadas a doenças muito conhecidas e, portanto, acabam “negligenciadas” pelos livros de Microbiologia.
M. abscessum é uma bactéria associada filogeneticamente às bactérias causadoras de lepra e tuberculose. Possui crescimento rápido e é encontrada normalmente em amostras ambientais como solo, água e ar. Felizmente, é muito difícil um indivíduo se contaminar e ter uma infecção através de uma contaminação ambiental.
Em contra-partida, a infecção (após contaminação, lembrar que não existe geração espontânea) causada por esse tipo de bactéria em ambiente HOSPITALAR após procedimentos cirúrgicos é bastante relatado na literatura. Normalmente a infecção está associada à utilização de material cirúrgico mal esterilizado e falta de higiene dos profissionais de saúde envolvidos no procedimento.
O diagnóstico necessita de confirmação do agente infeccioso, pois o tratamento é específico e combina diferentes antibióticos por um período prolongado de tempo.
A prevenção está na utilização de material estéril e não na utilização de material simplesmente desinfetado. Explicação: os procedimentos de esterilização garantem a ausência de microrganismos no material, enquanto a desinfecção somente diminui a população de microrganismos.
Saudações,
Prof. Paulo Rocha Jr.

Artigos:
M. abscessum em infecções hospitalares:
http://www.4shared.com/file/58778344/2123b975/3132.html

Micobactérias em infecções hospitalares no Brasil:
http://www.4shared.com/file/58778090/91a6bd78/850.html

2 comentários:

leandro disse...

Olá Paulo,
Parabéns pelo artigo. Está muito bem escrito!
Você falou que o ideal é a utilização de material descartável, pois pequenas quantidades de M. abscessum podem ser letais. Isso se dá por causa da agressividade da M. abscessum, que mesmo em pequenas quantidades pode ser fatal, ao passo que microrganismos mais "brandos", em pequenas quantidades, podem ser eliminados pelo sistema imune, confere?

Att.
Leandro

Prof. MSc. Paulo Rocha disse...

Caro Leandro,
A M. abscessum não é tão virulenta assim. O que ocorre nos centros cirúrgicos e nas clínicas de medicina estética é o uso de glutaraldeído (uma substância química capaz matar vários tipos de microrganismos) como agente de esterilização. O problema é que não esteriliza, desinfeta; e entre as bactérias que “resistem” ao processo destaca-se a M. abscessum.
Uma vez dentro do indivíduo, principalmente no espaço onde estava o tecido adiposo removido, a bactéria não encontra grandes dificuldades para colonizar o local onde foi realizada a cirurgia e o tecido adjacente, já que o sistema imune não consegue conter infecções graves nesse local (diferente do que ocorre nas mucosas e tecidos linfóides secundários).
Para piorar a situação, quando o paciente começa a apresentar febre e sinais de infecção hospitalar, os antibióticos ministrados normalmente nesses casos (penicilinas e quinolonas) não combatem efetivamente a infecção.
Agradeço sua visita e espero ter respondido sua pergunta.
Saudações,
Prof. Paulo Rocha Jr.